No Verão, só com guarda-pó se podia viajar; sem ele ficava-se como um padeiro a bater a fornada.
Este pitoresco demonstra a desgraça daquela povoação e o desprezo a que a votaram os poderes públicos de então.
Os automóveis mal eram conhecidos no País, ainda menos naquela terra. Não havia carreiras de transportes, quando muito o comboio, pois dentro da freguesia havia (e há) a estação de Recarei-Sobreira, na linha do Douro, sita a 800 metros dos actuais Viveiros. Não havia telefone, rádio, fax, etc. O transporte evoluído resumia-se ao cavalar.
Atravessava o País uma grande crise económico-social que vinha desde a grande guerra de 1914-1918 e a depressão aumentava com a aproximação do ano tristemente célebre de 1929. Castromil não era apreciado nem falado, não figurava no mapa nacional, concelhio ou paroquial, quando lhe era feita qualquer referência era chamado atrás da serra; na verdade, situa-se quase rodeado de montes, sobretudo dos lados Norte e Poente. As propriedades aproveitadas, extremamente pequenas, apenas davam produtos para a subsistência dos proprietários, sem sobras nem com aforros.
Ali, no último quartel do Séc. XIX, nasceu ABEL MOREIRA BARBOSA que não se conformava com tantas limitações. Dotado de vista apurada e de uma vontade de ferro e uma inquebrantável tenacidade, forçou a miséria que se vivia e lançou-se, com a colaboração da sua grande prole, numa nova iniciativa, aproveitando a sua pequena propriedade inicial dividindo a cultura em duas partes: a tradicional para manter a vida com o cultivo de espécies de subsistência e outra até então desconhecida, o cultivo de árvores para venda, isto é, Viveiros onde se reproduzem plantas, desde a sementeira, enxertia e mais operações até à venda a potenciais adquirentes.
Adopta princípios rígidos nessa nova actividade. São eles: Seriedade de processos a todo o custo, Integridade e firmeza na sua capacidade; ali nunca se troca uma variedade por outra sem que o cliente fique ciente e dê o seu acordo expresso ou presumido (uma cláusula inserida no catálogo avisa: Sempre que uma variedade pedida esteja esgotada, será substituída por outra de mérito aproximado, excepto se na nota de encomenda a substituição vier proibida; e, sempre que se faça essa substituição, o Cliente é notificado dela).
O saudoso fundador dos Viveiros de Castromil tinha-se munido na sua infância com o ensino oficial de então: o primeiro grau de Instrução Primária que era o único obrigatório àquela época. No entanto, antes que morresse, e com 73 anos já vividos, sujeitou-se a exame e obteve o diploma da 4ª Classe. Apesar dessa reduzida instrução ministrada, era uma pessoa culta para o meio em que viveu; viajou pela Europa largamente e por parte de África e do Médio Oriente; lia e entendia ao primeiro esforço uma carta comercial de qualquer língua, sobretudo se novi-latina ou catálogo de qualquer casa que passou a adquirir. Assinava revistas e lia livros da especialidade, chegou a escrever para jornais conceituados artigos, redigia com clareza e com poder extraordinário de síntese e concisão e obedecendo a uma linha lógica na exposição do pensamento, possuía uma caligrafia impressionante e harmoniosa.
Um faceta eloquente da sua vida: fizeram-no vereador municipal de Paredes, função que apaixonadamente assumiu. Depois de múltiplas tentativas para conseguir apoio a várias iniciativas e de ter sempre recebido uma nega com a resposta uniforme de “não há verba”, tomou esta atitude que ficou célebre e por muito tempo era comentada: ”Para governar uma casa varrida não é precisa tanta gente. Dizem que é costume pedir demissão; eu cá de mim sou livre e alodial, e a demissão tomo-a eu. Bom dia meus Senhores!”. E nunca mais pôs os pés naquela Câmara.
Nascido, como se disse, no último quartel do Século XIX, em plena monarquia, assistiu à democratização desta, ao regicídio, á implantação da Republica, às lutas da Democracia, às dificuldades e atrocidades de então. Foi neste cadinho que formou o seu carácter e criou uma personalidade forte, duro para consigo mas de agradável convívio, conduzida sobretudo pelo espírito de observação, crítica e acção. Referia ele que, quando resolveu criar os seus Viveiros, tinha feito até então um só enxerto em plantas e com uma foucinha. Pois, passado pouco tempo, tinha Engenheiros Agrónomos a pedirem informações práticas para os seus conhecimentos teóricos.
Acompanhou a sua iniciativa com outras em benefício local tais como: melhoramento dos acessos com um arranjo anual desviando as águas prevenindo danos das chuvas invernais, compondo valetas, tapando buracos, nivelando pavimentos, rectificando curvas; criou uma Escola Primária (as outras ou eram em Parada de Todeia ou no centro da Sobreira, qualquer delas a mais de 4 km e com acessos pedonais por carreiros através de montes isolados); e, conseguindo no Ministério da Educação o provimento de uma Professora para 4 classes da escola, garantiu a concessão, albergou-a em sua casa. Para isso, ofereceu ao Estado o edifício que logo aproveitou a ocasião para nele colocar a placa “Construído sob a Ditadura Nacional”.
No desenvolvimento dos seus Viveiros, lançou um catálogo anual que se distribui gratuitamente; conseguiu a inscrição dos Viveiros no Ministério da Economia onde têm e mantêm o número 2; adquiriu máquinas conforme foram surgindo no mercado, tais como as de escrever, o telefone, o automóvel, as máquinas agrícolas, etc.
Foi ampliando a esfera de acção e de representação, a sua norma, dentro da publicidade, era de que teria de ser feita pelo Cliente, isto é, a sua maneira de trabalhar e de fornecer é que faz a publicidade, um Cliente bem servido dirá bem da Casa, tal como aquele que fica insatisfeito não volta e diz mal da mesma Casa, nas suas referências que sempre existem.
Guiado pela regra fiscal de que a transacção consistente na compra e venda de plantas estava sujeito aos impostos sobre a Indústria ou Comércio em geral, começou por vender só as plantas que produzia integralmente, cujo imposto estava abarcado na contribuição predial. Isso o levou a aumentar cada vez mais a gama dos seus produtos e assim criava plantas para pomares, para jardins, para floresta, para avenidas, para parques. Uma gama sempre cada vez mais ampla.
A sua produção esteve sempre actualizada: logo que uma variedade nova surgia em Portugal ou no Estrangeiro, em breve passou a ser produzida nestes Viveiros. Mais do que isso: desde cedo os Viveiros de Castromil têm a sua quota de investigação e experiências. Desse esforço obtiveram-se e obtêm-se as mais diversas variedades, já em Roseiras ( a menina dos olhos desta casa, do seu Fundador e dos seus continuadores), nos Morangueiros, nos Castanheiros, nas Macieiras, nas Pereiras, nos Pessegueiros, nos mais variados campos se fazem ensaios e se encontram resultados. Vá de lembrar que no Vaticano estão roseiras que os Viveiros de Castromil “baptizaram” de João Paulo II.
Hoje (e já mais de 80 anos), a linha de conduta é a mesma. Os donos actuais são descendentes directos do Fundador: Dois filhos e dois netos. Continuam a cumprir tanto na produção de plantas, como na sua transacção e assistência aos Clientes.
A Casa, de humílima, passou a conhecida e respeitada no País, Colónias e no Estrangeiro. Muitas árvores de Castromil existem no Mundo, vigorosas, seleccionadas e produtivas a contribuírem para o Bem da Vida Geral.
Castromil entrou no Mapa!